Caos, desabastecimento e um governo atônito. O que era comum nos anos 1980, voltou a figurar nas manchetes dos jornais na última semana. Tudo isso por conta de uma surpreendente greve de caminhoneiros que conseguiu paralisar o País.
O gatilho da insatisfação dos profissionais de transportes foi o aumento sucessivo do preço do litro de diesel, que se aproximou dos R$ 4.
Para entender a razão dessa elevação, é preciso falar sobre a Petrobras. Se o sucesso das finanças da empresa representava uma boa notícia, isso ocorreu justamente por uma nova política de preços.
Ao acabar com o subsídio que segurava o preço dos combustíveis, a empresa conseguiu fazer caixa, mas ficou sujeita às variações internacionais da cotação do petróleo. Como a matéria-prima bateu em maio o maior valor em quatro anos, chegando a quase US$ 80, a disparada foi inevitável.
Neste aspecto é necessário mencionar o quanto o monopólio da distribuição e formação de tabelas de preços são prejudiciais. O governo brasileiro é o maior acionista da Petrobras e sem concorrência, tem liberdade para oferecer subsídios.
Foi justamente isso que acabou afetando o valor de mercado da Petrobras que sofreu queda de R$ 50 bilhões após a empresa ter congelar e reduzir os valores para venda de combustíveis.
Outro componente político da crise é que as pressões sobre o comando da companhia podem derrubar o presidente Pedro Parente e boa parte do bom trabalho feito por ele pode se perder.
Um ponto que merece ser discutido é que a opção feita, há muitos anos, pelo transporte terrestre, faz com que a dependência desse tipo de modal deixasse o Brasil “refém” no cenário atual.
CENÁRIO
As reações ao aumento não podem ser creditadas somente a essa razão. O clima de insatisfação com os rumos do País, o acirramento das disputas políticas e a atuação de empresários do setor de transportes podem ter ajudado o movimento a ganhar mais vulto.
Desde 2013, quando as primeiras manifestações tomaram as ruas do Brasil, a sensação geral é de incômodo. As eleições de 2014 mostraram uma divisão ainda maior entre as pessoas, a extensão da Operação Lava Jato e a queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) ajudaram a agravar o quadro.
Neste ambiente de tensão, os extremismos acabam sendo mais comuns e alimentados pela ausência de autoridade, a crise ganha contornos ainda mais dramáticos.
Por fim, as eleições presidenciais são um pano de fundo importante. Ainda é cedo para medir os impactos dessa crise e qual candidato conseguirá capitalizar mais com o cenário.
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