Se você chegasse há uns 10 anos para algum investidor e falasse sobre a possibilidade de colocar seu dinheiro na Argentina, soaria quase como uma piada. Desacreditado internacionalmente e no rescaldo de uma grave crise econômica e institucional, o país parece finalmente ter encontrado um caminho de recuperação e retomada do crescimento.
Os sinais disso são diversos e vamos falar um pouco sobre os principais deles. Em análise recente, o banco BTG Pactual estimou que a Argentina deve ter expansão de 3,5% ao longo da próxima década.
A instituição financeira listou que para obter este crescimento, o país precisará aumentar o índice de investimento para pelo menos 24% do PIB em preços constantes, ter uma melhora no mercado de trabalho e aumentar a produtividade em pelo menos 1,08 ponto percentual por ano.
Segundo a equipe do banco, há ainda grandes desafios em relação a melhora da produtividade, como o desenvolvimento do mercado financeiro, investimentos em infraestrutura, abertura comercial e as reformas tributárias e trabalhistas, entre outras mudanças que devem conduzir não apenas a uma economia mais produtiva, mas também maiores investimentos e melhoria nos índices de emprego no país.
A mesma linha de pensamento foi adotada pelo Banco Mundial, que em suas projeções para 2018, aponta que a Argentina deve ter aumento no PIB na casa de 3%.
Outro ponto que mostra a retomada da economia argentina foi o sucesso de duas empresas do país em IPOs no ano passado. Loma Negra, do setor de cimento e Despegar.com, site de reservas de passagens e hotéis, conseguiram retornos superiores a 15%.
Mas qual foi o caminho para que os argentinos começassem a pelo menos ter alguma perspectiva positiva para o futuro?
Mudanças na Argentina
Para entender o atual momento a ideia é recuar um pouco no tempo. Desde a crise de 2001 (falaremos mais sobre ela adiante), o país passou por mudanças profundas.
A hiperinflação e o elevado desemprego foram constantes, mesmo durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner. Os anos do casal à frente da Argentina, apesar de adotarem medidas populistas e de expandirem o gasto público, tiveram como legado o início da renegociação das dívidas, principalmente entre 2005 e 2010.
No entanto, o passo seguinte seria dado pelo atual presidente Mauricio Macri, que em 2016, quitou os credores dos títulos públicos do país vencidos em 2001 e saiu da moratória.
A chegada de Macri ao poder, o primeiro presidente em muitos anos que não esteve ligado ao peronismo, trouxe também uma agenda mais intensa de reformas, entre elas a da Previdência e a Trabalhista.
A tendência do atual governo está afinada ao que pensa o FMI, que lançou no final de 2017, um importante estudo sobre a carga tributária na Argentina e apontou para possíveis soluções.
De acordo com o Fundo, o trabalhador argentino contribui com 14% de seu salário bruto para pensão e cobertura de saúde quando se aposenta e ainda possui um adicional de 3% para a cobertura de saúde durante o trabalho. Esta taxa é uma das mais altas em comparação com o resto da América Latina, cerca de 9% em média.
Entre as propostas apresentadas pelo FMI estão a redução da carga fiscal, que estimularia o emprego e a formalização, especialmente se direcionada para trabalhadores com salários baixos, pois há evidências de que é o seu emprego que mais responde aos incentivos.
Além disso, o Fundo fala ainda em aumento da progressividade do sistema tributário, o que na visão dos técnicos melhoraria a propriedade redistributiva do sistema, por exemplo, levantando mais receitas para fornecer dinheiro para transferências na parte inferior da distribuição, independentemente do tamanho da família.
Um pouco da história da Argentina
A tragédia argentina teve início no final dos anos 1990, quando ao manter a paridade entre o dólar e o peso. O país teve que manter a relação por meio de empréstimos internacionais.
Com a crise da Rússia em 1998, a Argentina se viu em uma forte desvalorização do peso. Esse fator agravou a crise interna e fez com fosse dado um calote internacional.
A revolta social terminou com 30 mortos em dezembro de 2001 e forçou a renúncia do então presidente Fernando De la Rúa. Em uma semana o país chegou a ter 5 presidentes.
No entanto, a superação, por mais tempo que tenha levado, é importante para o Brasil, já que a Argentina sempre foi um importante parceiro comercial.
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